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PROGRAMAÇÃO DETALHADA​

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Mesas-Redondas

Segunda-feira, 10 de setembro de 2018

 

  • 14:00 às 16:00 h – Mesa Redonda 1: “Vozes que resistem: a arte marginal”

 

Na vanguarda da resistência: o rap brasileiro e a questão étnico-racial

Profª. Drª. Yanelys Abreu Babi

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            O rap nasce na cidade de São Paulo na segunda metade da década de 1980 e a questão étnico-racial tem sido frequentemente objeto do seu discurso, por meio do qual se constrói a identidade dos rappers e seguidores do gênero. Os sujeitos falam da discriminação sofrida pelo seu grupo de pertencimento, assim como da forma como eles lidam com isso; do orgulho de ser negro; dos ícones do movimento negro brasileiro e internacional. O discurso do rap brasileiro fala também sobre os efeitos do mito da democracia racial para a população negra; se coloca como espaço de denúncia contra o racismo e suas formas de manifestação; e faz referência às ações afirmativas e políticas públicas efetuadas pelo governo ou pela iniciativa privada a fim de corrigir desigualdades raciais no país.

O rap faz parte das manifestações significativas, por meio das quais a população negra, após o fim da escravatura, tem buscado garantir a participação política e social, assim como a circulação de sentidos positivos sobre sua identidade, nas Américas, e particularmente no Brasil. A luta por essas reivindicações perpassa vários âmbitos na contemporaneidade, dentre os quais, os movimentos sociais, a academia e a cultura. No cenário cultural, o rap constitui uma forma de expressão artística que dá voz e protagonismo à população negra.

O presente trabalho tem como objetivo fundamental analisar e descrever os mecanismos usados na construção de sentidos em torno da negritude no discurso do rap brasileiro. Para tanto, tomou-se como base o universo teórico da Análise do Discurso de linha francesa e filiação pecheutiana, que coloca a importância da formação ideológica, da formação discursiva e das condições de produção na construção do discurso.  

  

Literatura e marginalidade no cenário contemporâneo

Profª. Drª. Érica Peçanha do Nascimento (USP)

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            O trabalho visa apresentar um balanço dos desdobramentos críticos, estéticos e políticos da primeira década de atuação de escritores originários das periferias associados à expressão literatura marginal no cenário contemporâneo. Toma-se como referência os aspectos socioculturais que envolvem a produção e a circulação dessa produção literária desde a publicação das revistas Caros Amigos/Literatura Marginal até o atual contexto de expansão de saraus literários pelas periferias urbanas. Com isso, pretende-se de refletir sobre os impactos da presença coletiva de autores da periferia na literatura contemporânea, tanto a partir de produtos e ações de estímulo à fruição cultural dos escritores, como nas perspectivas interpretativas de alguns pesquisadores que se dedicaram ao fenômeno.

Terça-Feira, 11 de setembro de 2018

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  • 14:00 às 16:00 h – Mesa Redonda 2: "Mulheres (ainda) em luta: o feminismo no século XXI"

 

Mulher Maravilha: avanços no combate ou  reforço de estereótipos do feminino e do feminismo no século XXI?

 Profª. Drª. Monica Abrantes Galindo (UNESP/Ibilce)

           

            O conceito de estereótipo atualmente tende a referir-se a uma imagem mental simplificada, com poucos detalhes e baseada no senso comum acerca de um grupo de pessoas que partilham certas qualidades características – por exemplo “as mulheres” ou “as feministas”. É comum que seja usado com um sentido negativo ou pejorativo. São reproduzidos pelas culturas e veiculados em diversos meios, tal qual a televisão, internet e o cinema. A Mulher Maravilha foi um dos filmes de maior bilheteria de 2017.  A partir de alguns trechos do filme discutiremos se a heroína,  vinda de uma comunidade de mulheres, avança no combate aos estereótipos ou reforça  estereótipos ligados ao feminino e ao feminismo?  Considerando que os estereótipos fortalecem ideias preconceituosas, certamente a luta contra os estereótipos é (ainda) uma das lutas importantes do feminismo do século XXI.

 

A malandra de Anitta: feminismo empoderador da periferia ou feminismo neoliberalista de mercado?

Profª. Drª. Evelyn Caroline de Mello

 

            O feminismo tem sido pauta de discussões e debates, suscitando questionamentos vários e a proliferação de grupos e ideias plurais, em especial, ao debater o que parece ser o centro da questão: o corpo da mulher. Esta não é uma temática que tenha surgido exclusivamente no ínterim do século XXI, uma vez que foi pauta, por exemplo, do que se nomeou como Revolução Sexual, entre os anos de 1960-1970, e cujo ápice se deu a partir de 1980, não somente no Brasil, mas também na Europa e Norte-América, por exemplo. Não obstante, em terreno nacional, a frase “nosso corpo nos pertence” parece ser o slogan predileto dos movimentos e tem sido bastante explorado por artistas como Anitta que, ajudados pela grande mídia, ganharam força e destaque, conquistando apoio e simpatia de jovens que acreditam ser esta a medida do momento e grande arma para a tão sonhada revolução das mulheres. A música “Vai Malandra”, em específico, foi acolhida como garantia de empoderamento da mulher da periferia e meio de contestação da “indústria da beleza”, uma vez que a artista exibe a celulite como forma de contestar a obrigatoriedade do corpo perfeito. Entretanto, estudiosas como Ana de Miguel e Nancy Fraser e, ainda em tempos de Revolução Sexual, Herbert Marcuse, atentam às armadilhas que tal pensamento oportunamente pode criar, uma vez que o sistema neoliberalista tem se apropriado desta pauta sob a falsa alegação de “consentimento” e transformando, portanto, a pauta feminista em objeto mercadológico, em outras palavras, objetificando uma vez mais o corpo da mulher. Convém, portanto, ampliar o debate e reconduzir o feminismo ao seu papel político. Este é o objeto central do trabalho aqui proposto.

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Quarta-feira, dia 12 de setembro de 2018

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  • 14:00 às 16:00 h – Mesa-redonda 3: "Metamorfoses do texto e do corpo: da

 antiguidade à contemporaneidade"

 

O Satíricon, de Petrônio: as muitas formas da prosa narrativa

Prof. Dr. Claudio Aquati (UNESP/Ibilce)


            O Satíricon, de Petrônio, é um romance antigo escrito em latim por volta do ano 60 d.C. Por sua forma e seu conteúdo, foi considerado (e talvez ainda o esteja sendo, em larga medida) como maldito por muitas gerações ao longo dos séculos. Híbrido e diversificado, o romance articula verso e prosa, uma narrativa principal e contos subsidiários, e muitos recursos dos gêneros literários previstos pela Antiguidade, quais sejam o épico, o lírico e o dramático, para narrar a história de um resgate de vida: a viagem incessante de Encólpio, o protagonista, em sua busca pela sexualidade adulterada. A trajetória de Encólpio é caracterizada não só pela maneira como ele se vincula a outras pessoas do mesmo sexo, numa relação de afetividade, emoções, sentimentos e desejos, mas também por sua visita a ambientes sociais da Roma antiga. A deambulação de Encólpio pelo cenário da Antiguidade não constitui exatamente uma viagem por espaços geográficos, motivo pelo qual, se a descrição espacial é rica e variada, a localização do espaço na realidade imediata da época em que se situa a narrativa é bastante avara. Nesses ambientes, Encólpio encontrará os mais diversos tipos – certamente convencionais, pois já estavam presentes no decoro da sátira antiga – com os quais desenvolverá finas e atiladas observações sobre a vida cotidiana, sem, contudo, deixar uma marca desta ou daquela preferência diante dos impasses. Além da qualidade humana das personagens, a qual também se afere nessa narrativa, frente ao protagonista (que é também o narrador) enfileiram-se questões como, entre outras, o panorama da formação escolar, da orientação religiosa, as condições de permeabilidade social e cultural. Somem-se a essas as coisas da sexualidade, vista de maneira muito crua – por vezes muito violenta, em que se entrelaçam crueza e crueldade – e, segundo o ponto de vista da Antiguidade, com humor, ou, antes, ridicularização. Encólpio é homossexual e preenche suas relações homoafetivas participando de dois triângulos amorosos cujos partícipes são bem pouco generosos. Preencher talvez seja somente uma forma de dizer, pois o que parece resultar ao fim de tudo é que o Homem não tem mesmo preenchimento possível, condenado, portanto, a um vazio que a cada adversidade o leva a ininterruptamente reiniciar sua busca. Sob outra perspectiva, toda essa diversificação no conteúdo do Satíricon acaba confluindo literariamente para a noção de “sátira menipeia”, cujo estudo trouxe e traz luzes para a reflexão acerca dos primeiros passos do gênero romanesco, acerca do qual é sempre polêmico considerar se essa obra poderia ser, senão o primeiro, mas, pelo menos estar entre seus primeiros representantes: com esses passos, titubeantes ou não, o romance já apontava na Antiguidade, fruto da metamorfose dos gêneros literários reconhecidos como tal?

 

Luiz Antônio Gabriela, de Nelson Baskerville, um diálogo com a alteridade gay/travesti/trans

Prof. Dr. Arnaldo Franco Junior (UNESP/Ibilce)


            Neste trabalho, apresento uma leitura de Luiz Antônio Gabriela (2012), romance de Nelson Baskerville derivado da peça homônima que estreou em São Paulo em 2011, obtendo grande sucesso de público e crítica. Híbrido, o romance articula memorialismo, fragmentos de diário, depoimentos, anotações dramatúrgicas, trechos de crítica, etc. para narrar a história de uma busca pela “reconstituição” da vida da personagem-título, que se revela, também, um esforço de diálogo que visa uma reconciliação. Nascido/a em 1953, Luiz Antônio, irmão/irmã do autor, saiu de casa na adolescência por causa dos conflitos com a família conservadora em razão de sua homossexualidade, terminando sua vida na Espanha, onde ganhou certa notoriedade como travesti – Gabriela –, vindo a morrer de AIDS em 2006. O romance permite, por um lado, reflexões sobre a relação eu X outro, particularmente sobre a alteridade gay/travesti/trans num contexto adverso – o Brasil dos anos 60-70, momento em que a homossexualidade começou a ganhar voz, questionando a estigmatização e a repressão que historicamente a marcaram. Por outro lado, o hibridismo que constitui o texto ganha interesse na medida em que os materiais heterogêneos que o constituem aproximam-no da noção de “documentário cênico”, termo utilizado para caracterizar a peça da qual o romance derivou.

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Quinta-Feira, dia 13 de setembro de 2018:

 

  • 14:00 às 16:00 h – Mesa Redonda 4: "Direitos Humanos para humanos direitos?"

 

Interculturalidade e desenvolvimento

Procurador da República e Prof. Ms. Eleovan Mascarenhas

           

            A adoção formal, no âmbito do Direito Internacional, da denominação “Direitos Humanos”, foi inaugurada pela Carta da ONU, em 1945, e o tema tratado com maior profundidade na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que completará, em 10 de dezembro deste, 70 anos de existência. Tal formulação, que pretendeu ser uma resposta às atrocidades de proporções nunca vistas, e em grande medida praticada por Estados-nações contra seus próprios nacionais, significou uma mudança substancial, e paradigmática, do ponto de vista da titularidade de determinados direitos, os quais, como consequência lógica, foram adjetivados como “humanos”, ou seja, atribuíveis a todo ser humano, independentemente de qualquer condicionamento ou característica estranha a essa condição. Não obstante, nem a formulação ou a sua formalização jurídica, o tempo destas decorridos e as razões históricas que determinaram o surgimento desta categoria especial de direitos, tampouco a ausência de dubiedade linguística quanto ao fato de que os “direitos humanos” são, obviamente, para todos os humanos, tem evitado incompreensões e distorções expressas em movimentos e discursos que pregam que os “Direitos Humanos” devem ser reservados a determinada classe de seres humanos: os “humanos direitos”, “homens de bem” etc.

Tal estado de coisas tem demonstrado, assim, e lamentavelmente, que não obstante os avanços normativos, uma cultura de compreensão, e sobretudo vivência dos Direitos Humanos ainda não é realidade entre nós, mostrando-se necessário - e esse é o objetivo da exposição que faremos na mesa redonda “Direitos Humanos para humanos direitos?” - enfrentar as distorções e confusões sobre a temática dos Direitos Humanos, tendo por base a compreensão destes em seu contexto, suas causas, fundamentos e objetivos.

 

 

Direitos Humanos, racismo e sentimentos: percepções de estudantes da Educação Básica.

Profª. Drª. Ana Klein (UNESP/Ibilce)

 

            Direitos Humanos partem do principio da igualdade entre seres humanos, isso requer a superação de preconceitos, discriminações, relações desiguais de poder, igualdade de oportunidades, enfrentamento a desigualdade econômica, exteinção de privilégios, ações afirmativas... Parte da sociedade brasileira desconhece os Direitos Humanos e muitos alimentam preconceitos em relação ao tema, isso torna a população ainda mais vulnerável e suscetível de ter seus direitos violados. É necessário conhecer os DH e seus fundamentos para superar visões preconceituosos, reducionistas e que favorecem apenas a um pequeno grupo que deseja manter seus privilégios econômicos e sociais em uma sociedade injusta, desigual e violenta.

 

Sexta-feira,  dia 14 de setembro de 2018:

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  • 14:00 às 16:00 h – Mesa Redonda 5:  "Língua e (r)existência"

 

Literaturas indígenas, literatura de indígenas & literaturas indignas:

 Prof. Dr. Wilmar D’Angelis (UNICAMP)


            Há muito consagrou-se, entre os estudiosos, a ideia de literaturas orais, apesar do aparente paradoxo (uma vez que Literatura deriva de littera, do Latim: "letra"). Há, pois, literaturas indígenas, e seu caráter vivo e dinâmico é parte dos processos de resistência cultural e política de muitos povos indígenas. No entanto, de poucas décadas para cá vimos o surgimento de uma literatura de indígenas, que não pode ser igualada ou confundida com aquela literatura indígena tradicional. Quais são os pontos de contato e de distinção ou diferenciação entre esses dois tipos de literatura? É o que pretendemos refletir. Há, porém, ainda um terceiro tipo de literatura ligada às tradições indígenas: o uso de narrativas tradicionais (no todo ou em parte) para compor coletâneas voltadas ao mercado criado pela Lei 10.645/2008. Um filão de mercado, em outras palavras. Como essa forma de divulgação "literária" se associa, se dissocia ou se articula com as outras duas é o outro tema dessa reflexão.

 

Língua e (r)existência: o continuum banto

Profª. Drª. Esmeralda Vailati Negrão (USP)

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            Expansão banta é a expressão que designa um dos fenômenos de mobilidade humana mais notáveis. Palmer (2000) considera a expansão banta, uma das três ondas migratórias caracterizadas como diásporas pré-modernas. Ocorrida há aproximadamente 3,000 anos atrás, a migração dos povos bantos, a partir de seu habitat natural no que é hoje a República dos Camarões e a Nigéria,resultou na prevalência das línguas da família linguística banto pela vasta região que se estende entre o noroeste até o nordeste e o sul da África subsaariana. Palmer também reconhece três diásporas africanas modernas, dentre elas a diáspora africana do Atlântico, que teve seu início na metade do século XV e seu término no século XIX, período durante o qual cerca de 12 milhões de pessoas foram trazidas para as Américas como escravos. O conceito de diáspora, de difícil definição, é introduzido em minha fala para trazer para nossa reflexão o papel desempenhado pelos contatos linguísticos nesse complexo processo de migrações de africanos, contatos esses que tiveram impacto na evolução linguística e na emergência de novas línguas.Aspectos da gramática do português brasileiro serão analisados para defender a tese de que essa língua, caracterizada por Negrão & Viotti (2012) como uma língua transatlântica, emergiu como uma variedade colonial, num ambiente de intenso contato multilíngue e multicultural.

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